Lições de Autoestima
Vou logo avisando, para não ter mal entendidos, que não me refiro à famosa escritora. A Clarice a quem me refiro é uma fofura de três anos e meio de idade, que me enche de alegria e amor, de quem tenho a alegria de não ser somente tia, mas também madrinha. Conviver com uma criança é uma oportunidade de re-aprender como é fácil ser feliz e se divertir, de não precisar agradar ninguém, de não se prender aos comportamentos impostos e aos adquiridos pelo ego, a dar importância ao que realmente importa. Me pego pensando que mais aprendo do que ensino em nossa relação. ClaCla é demais, lá vem papo de tia coruja. Começou a falar aos 10 meses, a andar aos 11. Com um ano e meio comunicou que não ia mais usar fralda (já falava tudo) e fez xixi na cama só duas vezes. Já sabe todo o alfabeto, até w, x, y, z e sabe escrever o nome dela, e o meu. Tudo isso faz dela uma criança que tem facilidade em aprender, ou muito inteligente, mas não é isso que a faz especial. É sua personalidade.
Ela é muito curiosa, quer saber tudo de tudo, uma metralhadora de questionamentos do tipo o que é casamento e por que as pessoas casam. Ouvida a explicação, completa com um divertido “É? Não sabia. Agora eu sei”. Me ensina que só perguntando é que se aprende. É tão óbvio!
Me lembro de um dia em que ela quis fazer um show para mim e o irmão, ao final ela mesma bateu palmas e se deu parabéns. Assim como ela mostra orgulhosa quando um trabalho na escola fica lindo e diz sem pretensões… “fiz bem caprichado, olha como ficou lindo”. Me ensina que é importante reconhecer as próprias conquistas e o trabalho bem feito, e se parabenizar. E isso não é arrogância nem presunção.
Essa semana estávamos desenhando e sem constrangimento ela olhou para o próprio trabalho e concluiu: “Não ficou bom”. Tentei argumentar e ouvi “Sei que não ficou bom, tia. Olha como aqui, aqui e aqui tá feio.” O que era para ser uma cama rapidamente virou um tapete e continuamos. Me ensinou a reconhecer quando algo não é bem feito, sem mimimi. E a focar na solução. Rapidinho, rapidinho.
Ela é super independente, quer fazer tudo, tudo sozinha. Fica brava se tentamos ajudar. Se é algo que ela ainda não aprendeu, tenta várias vezes por conta própria e quando vê que não consegue, não se frustra. Pede ajuda, e o que ainda não pode, ela diz… “não sei isso ainda” ou “quando eu for grande eu faço”. Ela tem certeza que pode fazer qualquer coisa, não se subestima. Me ensina a pedir ajuda quando não conseguimos sozinhos e que podemos mais do que os outros julgam, é melhor não dar importância.
Ela sabe exatamente o que quer. Em seu aniversário de três anos não quis os vestidos, escolheu o moletom e apesar de toda as tentativas de persuasão não titubeou nem um segundo. Com vergonha confesso que também tentei e fui obrigada a me calar com a resposta “o vestido é bonito, mas eu já escolhi a roupa que eu vou”. Essa semana, questionada sobre o tema do próximo aniversário já avisou que quer Branca de Neve. O irmão de nove sugeriu A Bela e a Fera, que ela gostou tanto de assistir no cinema e ouviu “cada um escolhe o que quer”. Me ensina a não ceder para agradar alguém.
Apesar dos avisos da vó, continuou correndo onde não devia, tropeçou e caiu. Levantou rapidinho e tentou disfarçar, com uma cara sapeca muito engraçada que nos arrancou gargalhadas. No começo ela riu junto e com a nossa insistência, séria e em bom tom disse: “não tem graça”. Me ensinou que às vezes precisamos levantar a voz para nos defendermos, mesmo das pessoas que amamos e que nos amam.
E o que mais aprendo com ClaCla é de como é mais simples ser feliz sem a porcaria do ego, que nos protege com orgulho, timidez, rancor, arrogância e egoísmo. Me faz pensar no que está por tras de Mateus 19:14 “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas”.
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