Autoestima é diferente de Autocompaixão ?

Há algum tempo tem-se levantado um grupo em favor a desenvolver a Autocompaixão em detrimento da Autoestima. Esta semana uma cliente me perguntou o que eu achava, estava com dúvidas, principalmente nas consequências negativas do narcisismo, ao se pregar o desenvolvimento da Autoestima. Ela não foi a única a falar sobre Autocompaixão comigo, por isto escrevo aqui o que eu penso.

Para se falar em Autocompaixão, é preciso falar do trabalho da Kristin Neff, Ph.D. autora do livro Autocompaixão. Segundo Neff, a compaixão por si não é diferente da compaixão por outros, quando em sofrimento. Em segundo lugar, a compaixão envolve o sentimento movido pelo sofrimento dos outros de modo que seu coração responda à sua dor (a palavra compaixão literalmente significa “sofrer com”). Quando isso ocorre, você sente calor, carinho e o desejo de ajudar a pessoa que sofre de alguma forma. Ter compaixão também significa que você oferece compreensão e bondade para os outros quando eles falham ou cometem erros, ao invés de julgá-los duramente. Finalmente, quando você sente compaixão por outro (ao invés de pura piedade), isso significa que você percebe que o sofrimento, o fracasso e a imperfeição fazem parte da experiência humana compartilhada.

A autocompaixão envolve tratarmos a nós mesmos da forma como trataríamos um amigo com dificuldades. Significa nos oferecer cordialidade e aceitação incondicional.

Ela diz ainda que Autocompaixão tem vários benefícios em relação à Autoestima, e que esta é uma avaliação global sobre o valor próprio. Um julgamento sobre ser uma pessoa boa ou ruim. E que a Autoestima pode ser problemática, pois, na cultura americana, para se ter autoestima é preciso se sentir especial e acima da média, em comparação aos demais. E como é possível sermos todos acima da média? Esta epidemia narcisística (Os maiores níveis dos últimos 25 anos), está como consequência causando os inúmeros casos de Bullying. E segundo estudos, está associado ao incentivo à Autoestima nas escolas. Entre outras questões levantadas, Neff diz neste TED que Autocompaixão não é uma maneira de nos julgar positivamente, é a maneira como voltamos para nós mesmos, gentilmente.

Bem, a primeira questão da qual discordo é que a Autoestima é baseada em comparação. Em programas de desenvolvimento, cursos e literatura, eu nunca ouvi nada que leve à esta direção. E nem faria sentido, pois o nível de bem estar individual não pode estar ligado à imagem de outra pessoa. Sempre terá alguém melhor. É fato. Desenvolver a Autoestima não significa sentir-se especial sendo superior ou melhor. Autoestima não é também julgar-se uma pessoa boa ou má, mas simplesmente aceitar-se amorosa e gentilmente.

O autoconhecimento, a autoestima e a autocompaixão são fundamentais para nós sermos pessoas melhores e mais gentis com nós mesmos e com os outros. 

Eu compreendo o cenário atual de altos níveis narcisísticos das gerações Y e Z principalmente, mas culpar o estímulo ao desenvolvimento da Autoestima, me parece um tanto simplista. O cenário é complexo e vivemos em um mundo de mudanças muito velozes. Acredito que a alta exposição da mídia,  o acesso à internet e às redes sociais, bastante relevantes neste cenário. Somos constantemente expostos à modelos de vida perfeitas, referências de sucesso, fama e poder. Acabamos sendo produto do modelo econômico que vivemos, e se não ficarmos atentos e conscientes, acreditamos que ser feliz é TER. A felicidade nunca residirá nesta morada. E enquanto estivermos presos à teia do TER (o mercado agradece, diga-se de passagem), fica complicado ter uma Autoestima saudável. Se medimos a felicidade com o que se tem, é preciso ter cada vez mais, e do melhor. Não é nada disso que prega o Desenvolvimento de uma Autoestima Positiva e Saudável. Escrevi um pouco mais sobre o que é no  post anterior, aqui.

Recorro à definição e à etimologia para elucidar.

Estima: Ação ou efeito de estimar. Sentimento de amizade, de apreço, em relação a outrem. Sentimento de afeição de alguém por alguma coisa. Apreciação, estimação, em relação a alguém, por motivos de orgulho profissional.Sensação favorável – amizade, apreço, afeição. Do latim aestimare, que significa apreço, gostar de, estimar.

Compaixão: Piedade; sentimento de pesar, de tristeza causado pela tragédia alheia e que desperta a vontade de ajudar o próximo, de confortar quem padece de algum mal: papa pede compaixão pelos pobres. Dó; sentimento de pena: sentia compaixão pelos pobres. Do Latim compassio, “piedade, capacidade de sentir o que outro sente”, de compati, “sentir piedade”, de com, “junto”, mais pati, “sofrer, aguentar”.

Eu acredito que a Autocompaixão é uma das facetas da Autoestima, e ambas são igualmente importantes para um bem estar psíquico e emocional, e um autoconceito saudável. A mim, não faz sentido estimular uma em detrimento da outra pregando por exemplo, que existe mais benefícios na Autocompaixão. Não é possível generalizar, cada pessoa tem um momento ou necessidade próprios. Temos a constante necessidade de categorizar e rotular. No fim, o que todos queremos é nos sentirmos felizes e plenos.

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